INSTITUCIONAIS
Efeméride: Um ano depois do Idai
Numa altura em que o nosso país se encontra em estado de emergência, em virtude da pandemia da nova estirpe do coronavírus (SARS-CoV-2), o Desportivo Jorge Antunes e a terapeuta ocupacional de profissão ao serviço da organização não-governamental Médicos do Mundo e atleta da equipa sénior feminina de futsal do nosso clube, Sara Moura, "viajaram no tempo" para relembrar uma outra situação de emergência ocorrida há precisamente um ano.
No início de março de 2019, a zona da Beira, em Moçambique, foi devastada pelo "Ciclone Idai", que causou centenas de mortos e milhares de desalojados. “Idai” atingiu as impressionantes rajadas de 195 km/h e uma pressão central mínima de 940 hPa (27,76 inHg), até, finalmente, em meados do mês, começar a enfraquecer. Os efeitos foram, ainda assim, devastadores. O presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, classificou o ciclone como “um dos piores desastres do hemisfério sul”.
No dia 21 de março do ano supra indicado, a treinadora do plantel sénior feminino do Desportivo Jorge Antunes, Estela Torres, foi surpreendida por uma mensagem de Sara, na qual era notória a sua apreensão quanto a tudo o que se passava naquele país deveras fragilizado por toda a situação. À data, Sara afirmou que nos treinos subsequentes necessitaria de estar contactável, pois, a qualquer momento, poderia ser confirmada a sua partida para solo africano. E assim se sucedeu: a 24 de março, Sara ousou sonhar e partiu! Rumou a Moçambique numa equipa composta por 15 profissionais de várias áreas da saúde, com cerca de 33 toneladas de ajuda humanitária que, entretanto, havia sido recolhida! Numa parceria entre a Médicos do Mundo e a Cruz Vermelha Portuguesa, apelidada de “Operação Embondeiro”, vários foram os esforços levados a cabo para que a dignidade humana de um aglomerado de pessoas diretamente afetadas fosse salvaguardada.
Citando a atleta do Desportivo Jorge Antunes “tudo foi organizado em três, quatro dias, faria tudo de novo e sou muito grata por tudo aquilo que tem acontecido na minha vida", afirmou. A jogadora de futsal, de 32 anos, reforçou ainda a ideia de que “quem passa por estas missões acaba por relativizar os problemas que se vivem cá.”
Sara Moura no terreno através da objetiva de Flávio Forner
Sara Moura salientou ainda:
“A experiência nessa minha primeira missão de emergência, em Moçambique, veio reforçar a perspetiva que tenho de que o expoente máximo da capacidade humana é a empatia, isto é, a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro. Se formos capazes disso, conseguimos evoluir e tornarmo-nos melhores pessoas no nosso dia-a-dia.
E foi, sem sombra de dúvidas, um dos maiores desafios que já travei e que agora, com algum distanciamento, percebo que me ajudou a crescer imenso enquanto profissional, mas principalmente enquanto ser humano. Aprendi que a perseverança e a resiliência são ferramentas poderosíssimas. Aprendi que temos que dar tempo para “sarar as feridas” e aprendi também que a ligação com as pessoas, a conexão e a proximidade é essencial; diria mesmo o mais importante!
Um ano após o Idai, o mundo está a enfrentar uma crise de saúde que afeta todos os aspectos das nossas vidas: a Covid-19. E é importante cuidarmos de nós, olharmos uns pelos outros, acreditar que esta situação é transitória e que tudo vai ficar bem! Para já, basta-nos apenas cumprir todas as orientações e normas das entidades competentes, como é o caso da Direção Geral da Saúde e mantermo-nos física e mentalmente saudáveis!
«Um pequeno esforço de cada um de nós, um grande impacto para todos» (DGS, 2020).”
A empatia de Sara Moura patenteada através da objetiva da Médicos do Mundo
A Organização Não-Governamental:
A Associação Médicos do Mundo é uma Organização Não-Governamental de ajuda humanitária e de cooperação para o desenvolvimento, sem filiação partidária ou religiosa. O seu trabalho assenta no direito fundamental de todos os seres humanos e no seu direito ao acesso a cuidados de saúde, independentemente da sua nacionalidade, religião, ideologia, raça ou possibilidades económicas.
(Ver mais em: https://www.medicosdomundo.pt/)
A Terapeuta Ocupacional/Atleta do Desportivo Jorge Antunes:
Sara Juliana Ferreira Moura, 32 anos, natural da cidade de Santo Tirso, Distrito do Porto. É Licenciada em Terapia Ocupacional pela Escola Superior de Saúde do Porto e, desde 2011, integra a Organização Não-Governamental Médicos do Mundo. A área que hoje segue foi sempre a sua primeira opção na faculdade. Sara vai realizando o seu grande sonho, mas, essencialmente, os pequenos sonhos diários da população a quem presta auxílio e, não sendo possível mudar o mundo, vai alegrando o dia-a-dia daquele que é parte do seu mundo! O seu coração seguiu a terapia ocupacional, os seus pés optaram pelo futsal!
Em pleno estado de emergência chega-nos esta mensagem de esperança. Que a resiliência de Sara Moura e de todos os moçambicanos direta ou indiretamente afetados pelo “Ciclone Idai” nos tragam a força do altruísmo. Ninguém consegue mudar o mundo sozinho, porém, em sinergia, o mundo será certamente um lugar melhor. E, no final, fruto dessa cooperação e de uma junção de esforços, voltaremos a abraçar os que mais amamos, sabendo de antemão que, afinal, já éramos felizes e não sabíamos!
Obrigado Sara e a todos os profissionais que, diariamente, carregam o mundo nas suas costas para que as nossas estejam a salvo!