INSTITUCIONAIS
Cátia Sousa: Dar vida!
Cátia Sousa, atleta da equipa sénior feminina de futsal do nosso clube, está inscrita como dadora de medula óssea há sensivelmente doze anos e é dadora de sangue há sete. Em dezembro de 2018, fez uma pausa na competição para salvar uma vida. A oportunidade já havia surgido dois anos antes, contudo, na altura a situação gorou-se por circunstâncias da vida e da ciência. Numa altura em que o nosso país se encontra em Situação de Calamidade em virtude da pandemia da nova estirpe do coronavírus (SARS-CoV-2), o Desportivo Jorge Antunes e Cátia Sousa "viajaram no tempo" para recordar esta efeméride e, essencialmente, para apelar ao sentido solidário dos portugueses pois, por vezes, dar sangue é dar vida!
Tudo começou em 2008 quando, à data, Cátia Sousa representava a equipa sénior feminina de futsal do Vitória SC. Um familiar de uma colega de equipa necessitava de um transplante de medula óssea e Cátia não hesitou em deslocar-se a Famalicão para efetuar o teste de compatibilidade. Nesse instante ficou inscrita no Registo Português de Dadores de Medula Óssea. Oito anos mais tarde, em 2016, recebeu um telefonema do Hospital da Senhora da Oliveira, em Guimarães, dando conta de uma possível compatibilidade. Todavia, após a repetição dos exames, a possibilidade não se confirmou. Em 2018, a jogadora de futsal do Desportivo Jorge Antunes, foi novamente contactada. Revelou que sentiu um "nervoso miudinho" e dirigiu-se ao Hospital para repetir as análises. Um mês depois, foi surpreendida por um telefonema do médico que lhe disse diretamente: “Cátia, quero dar-te os parabéns, saiu-te o Euromilhões”. Estava confirmada a sua compatibilidade a 100% e, então, todo o processo que anteviu o transplante teve início.
Cátia Sousa numa das suas habituais dádivas de sangue
Cátia Sousa afirmou:
"Depois de ter sido anunciada a minha compatibilidade, voltaram a perguntar-me se eu estaria realmente disposta a seguir com o processo e eu imediatamente disse que sim. Como é natural, senti algum receio, tinha várias dúvidas, mas mesmo assim não hesitei em dizer que sim. Assim como alguém naquele momento estaria a sofrer, esse alguém poderia ser da minha família ou outra pessoa próxima a mim que precisasse e, nesse caso, eu também iria querer que alguém tivesse coragem para ajudar os meus. Então continuei e o Dr. João (Médico que acompanhou todo o meu processo) disse-me que iria informar a pessoa em questão de que tinham encontrado um dador compatível e que estava disposto a seguir com a doação. Ficou então combinado que ele posteriormente me iria telefonar para marcarmos uma data, para eu me dirigir ao Hospital de São João, no Porto, desta vez para a realização dos exames que garantissem a minha boa imunidade e, à posteriori, não teria qualquer tipo de problemas com esta doação. Após a data marcada, eu dirigi-me ao Hospital, onde realizei todos os exames e me esclareceram todas as etapas do processo. Nesse mesmo dia, tive também uma reunião com uma Médica onde tratamos de toda a papelada na qual eu assinei um termo de responsabilidade referindo que, após iniciar o tratamento para o início da doação, a pessoa que iria receber a minha medula teria também que começar um tratamento, para posteriormente poder receber as minha células e, a partir daí, eu já não poderia voltar atrás. Ficou então marcado o dia para o transplante: 05 de dezembro de 2018."
No dia 01 de dezembro, dias antes da data marcada, Cátia Sousa iniciou o tratamento e, duas vezes por dia, tinha que aplicar injeções na região abdominal; as injeções tinham como objetivo garantir que o seu organismo produzisse mais células do que o habitual, pois seriam essas células a ser retiradas no dia do transplante. Foi uma semana complicada, o seu corpo começou a sentir os sintomas da produção de células, as dores de cabeça e enjoos eram uma constante. Por vezes, quando tentava andar, as pernas falhavam, contudo, Cátia já estava precavida pelos médicos quanto a esses sintomas e, no final, fruto de toda a sua resiliência, o sentido cívico prevaleceu.
No dia 05 de dezembro, às 06 horas da manhã, chegava o Táxi que levaria Cátia Sousa ao Hospital. A sua mãe esteve presente durante todo o processo. Quando chegou ao Hospital, as enfermeiras já estavam à sua espera. Foi-lhe ministrada a última injeção antes do processo e encaminharam-na para o piso correto. O transplante foi realizado por transfusão de sangue e teve a duração de aproximadamente seis horas.
Cátia Sousa no dia do transplante
O seu nobre gesto não passou despercebido e valeu-lhe o Prémio de Reconhecimento Social, recebido durante o Jantar de Natal do Desportivo Jorge Antunes, no dia 21 de dezembro de 2018.
Cátia salientou ainda que "foi, sem dúvida, um dia que jamais esquecerei, uma sensação incrível de dever cumprido. Hoje, passado um ano e meio, sinto-me bem, não tive qualquer problema a nível de saúde; se fosse necessário, voltaria a fazê-lo sem hesitar! No início deste ano, recebi uma carta vinda do Hospital que foi enviada pela pessoa que recebeu as minhas células, o que atribuiu ainda um maior significado a todo este processo. Apesar de não nos conhecermos, ela diz que está bem de saúde, que tudo correu bem e agradeceu-me por tudo o que fiz. Disse-me ainda que hoje em dia consegue ter uma vida normal. Sinto-me muito realizada por isso!"
A Estilista/Atleta do Desportivo Jorge Antunes:
Cátia Sofia Ferreira Sousa, 30 anos, natural da vila de Moreira de Cónegos, é profissionalmente especializada em Estilismo pela Escola Profissional Cenatex, em Guimarães. Após a conclusão do curso começou a trabalhar na sua área de especialização, conciliando a atividade laboral com o desporto. É capitã da equipa sénior feminina de futsal do Desportivo Jorge Antunes, clube que representa desde 2018.
Numa altura em que o nosso país vive momentos de indefinição, nesta nova realidade sem precedentes, o sentido solidário de Cátia Sousa traz-nos uma mensagem de esperança. Cátia abdicou da quadra para escrever um poema inteiro. Nesses versos constaram o amor pela vida, o sentido altruísta de compaixão pelo próximo e a convicção de que pequenos gestos individuais levam a transformações globais. Dar vida custa-nos algumas horas, recebê-la é a certeza de um novo amanhecer, numa realidade eternizada no livro da memória.